domingo, 19 de abril de 2015

Manuel Bandeira - 129 anos


BOM DE LER



Para lembrar o poeta MANUEL BANDEIRA, que hoje completaria 129 anos





Há 129 anos, num distante 19 de abril, nascia em Recife, no litoral pernambucano, o poeta, prosador, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor Manuel Bandeira (1886 - 1968). 

O pai criou-o para que fosse arquiteto, mas a tuberculose não permitiu que ele concluísse os estudos. Em tratamento na Suíça, conheceu, em 1913, no mesmo sanatório, o poeta francês Paul Éluard, que o colocou a par das inovações na poesia europeia. 

Por conta da tuberculose, o país perdeu um arquiteto, mas, em contrapartida, ganhou um poeta lírico, que, com estilo simples e direto, veio a se tornar o mestre do verso livre no Brasil.

Ainda que às vezes utilizasse uma abordagem irônica e formas em desacordo com as tradições acadêmicas, o poeta pernambucano era profundo conhecedor de Literatura e bebia na fonte das tradições clássicas e medievais.

A preocupação constante com sua saúde e com a fragilidade de seus pulmões, aliada a sucessivas perdas familiares, fez com que as temáticas da angústia, da morte, da nostalgia e da solidão estivessem presentes em sua obra. No entanto, o amor, o erotismo, a infância e o cotidiano também se fazem presentes em sua poesia, mas expressos com melancolia.

Abaixo, um poema retirado do livro "A Cinza das Horas", publicado em 1917, em que o poeta mostra, melancolicamente, as múltiplas faces do amor e sua efemeridade, passando do amor ao desamor. 


Chama e fumo


Amor - chama, e, depois, fumaça...
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa...

Gozo cruel, ventura escassa,

Dono do meu e do teu ser,
Amor - chama, e, depois, fumaça...

Tanto ele queima! e, por desgraça,

Queimando o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa...

Paixão puríssima ou devassa,

Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor - chama, e, depois, fumaça...

A cada par que a aurora enlaça,

Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa...

Antes, todo ele é gosto e graça.

Amor, fogueira linha a arder!
Amor - chama, e, depois, fumaça...

Porquanto, mal se satisfaça

(Como te poderei dizer?...),
O fumo vem, a chama passa...

A chama queima. O fumo embaça.

Tão triste que é! Mas... tem que ser...
Amor?... - chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa...

Teresópolis, 1911




                           

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